6 de julho de 2007

Os Motivos de Daiana - Parte 3 - "Fim da Firma"

Antes de dar seqüência na leitura deste conto, saiba o leitor que se faz importante a prévia leitura dos demais contos da série “Motivos de Daiana”, para que se possa apreciar e compreender por completo o que se passa na história.
O demais contos anteriores da série podem ser encontrados nos links a seguir:

Os Motivos de Daiana I

Os Motivos de Daiana - Parte II


Lentamente ela ia afastando-se do edifício, e uma rajada de vento jogou contra sua perna uma folha perdida de jornal, provavelmente saída de uma das bancas de frutas que cercavam o prédio onde ela havia passado mais de 5 horas a fio, servindo aos caprichos de pelo menos meia dúzia de homens naquela tarde. O corpo estava ainda dolorido do jovem afoito que dera início a sua jornada de trabalho. Ele caprichosamente cuidou de feri-la o máximo que pode, para provar para si mesmo que não se importava com ela. Para provar para si mesmo que não precisava de uma puta. Mordeu seus mamilos quase ao ponto de corta-los, e fingiu não importar-se com o discreto pedido de Daiana para que parasse. Ao contrário, foi como um estímulo, mais força ele empregou para morder a delicada pele de Daiana.
Mas Daiana conhece isso muito bem. Preferiu não pedir uma segunda vez, apenas sorriu. Acariciou seu cabelo, e sussurrou baixinho: “- Tu és o terceiro hoje, querido. Mas não conseguiria nunca ser o último a não ser que me matasses”...
O jornal que prendeu-se em sua perna, pelo forte vento que congelava a capital nesta tarde, parecia não querer desprender-se de forma alguma. Soltava-se de uma, prendia-se de outra, irritantemente. Daiana respirou fundo, arrumou o cabelo negro e embaraçado pelo vento em um coque. E seguiu a caminhar, ignorando o jornal. Atravessou a Av. Borges de Mendeiros, em direção ao viaduto, determinada a caminhar até o Parque Farroupilha. Queria ver os macacos da redenção antes do fim da tarde, pegar um pouco de ar. Precisava muito ver algo não humano, algo menos vil e sujo.
Seu celular tocou antes que chegasse à altura da pequena Praça Argentina, onde mendigos procuravam abrigo do frio que o fim da tarde começava a trazer. Uma breve espiada no celular, e pode ver que Alves ainda tinha algo a dizer. “- Maldito cafetão. Não basta o que já ouvi...”
- O que queres, Alves?
- Alô, Jaque? Volta pra cá, mulher, na terminamos de conversar!
- Já falei, não me chamo mais Jaque. Aliás, nunca deveria ter me chamado jaque. E não tenho mais nada ra dizer. Nem pra ouvir.
- Jaque... Ta, Daiane...
- Daiana.
- Isso, ta bom... Vem cá, volta pra cá, o guri já foi embora, agora podemos conversar direito. Sabes que o que te falei não foi por mal, mas eu precisava concordar, tu sabes como as coisas são...
- Não me interessa, Alves. Ele me feriu, me machucou. Um pivete, playboy metido a dono de boca.
- Jaque, ele é filho do “homem”, que que tu quer que eu faça? Tu sabe que o Coronel não é mole, se eu contrariar o bicho pega.
- Já pegou, Alves. Não volto mais.
- Jaque...
- Não me chama de Jaque.
- Ta, guria. Volta aqui, vamo tomar um conhaque e acertar as coisas. Tenho uma grana pra te dar de hoje. Trabalhou bem, merece o teu.
- Fica com o meu, Alves. Compra um algodão doce. Ou um amendoim, acho que te fará melhor.
Foi sem sorriso algum no rosto alvo, rubro pelo vento frio, que Daiana desligou o telefone. Uma lágrima incontinente escapou-lhe, mas foi rapidamente colhida. Não somente pelos tapas que levou no rosto logo após a réplica dada às mordidas vorazes do moleque. Nem pelos empurrões para fora do quarto que ele lhe deu, antes de ordenar a Alves que mandasse embora aquela “puta imunda e fedorenta”, nas palavras do ilustre menino de 19 anos, filho do dono da firma.
Ele quase nunca aparecia, normalmente escolhia as meninas mais novas, mais submissas e vindas do interior. Delas fazia o que bem entendia, e jamais reclamavam. Normalmente pediam folga logo depois de com ele estar, e não costumavam contar umas às outras o que se passava com ele dentro do quarto. Diziam as lendas que o rapaz tinha um dote nada privilegiado, e que gostava de introduzir objetos impróprios nas meninas, qualquer coisa que achasse por perto, desde aparelhos de telefone, até pedaços de tecido. Ameaçava-lhes de manda-las não somente embora, mas de evitar que fossem aceitas em qualquer outro lugar se reclamassem muito, ou se contassem a alguém.
Daiana nunca era a escolhida, tinha um ar por demais maduro e sério. Nada tímida, as vezes impetuosa. Mas aquele dia, justamente, depois de umas garrafa inteira da vinho na frente dos amigos, moleques quase todos de 16, 17 anos, ele apontou o dedo pra ela, como num maldita roleta russa.
Depois de expulsa-la do quarto, dizendo barbaridades, que Daiana julgou que seriam o limite da baixeza que viria, desapareceu para dentro de um dos quartos vagos, bêbado de cair, e por lá dormiu. Alves não hesitou em amparara-la paternalmente, orientado-a a seguir a rotina de “trabalho”. Machucada, e magoada, ela atendeu ainda mais cinco clientes. Dois deles simultaneamente, sendo que foram os últimos.
Um deles era até um belo rapaz, de não mais que trinta anos, bem apessoado, provavelmente conduzido pelo outro, mais velho e mais atrevido. Provavelmente colegas de trabalho, o mais velho, cujo nome Daiana ignorava, apresentava a casa ao outro. Por mais que tentasse, Daiana não foi capaz de lembrar se já o tinha atendido. Afinal, era tão medíocre. Tão comum e trivial, em nada se destacava dos outros tantos homens que possuíam seu corpo nas tardes vazias de sua vida. Mas estranhamente, sem saber em que momento escutou pela primeira vez, foi incapaz de esquecer o nome do mais jovem. Pablo. Tão... Educado... Foi cortês o tempo todo, tratou-a como a uma Lady. Sempre de olhar baixo, parecia um pouco envergonhado e tímido, mas conformado com a situação de ter de demonstrar que tudo estava sob controle. Foi dele a única boca que Daiana não recusou aquela tarde, durante o breve momento de desconcentração que sofreu em quanto o mais velho a penetrava por trás, na beirada da cama, aos solavancos. Neste momento, habitualmente, ela deveria chupar o rapaz da frente, para sensibiliza-lo ao máximo, então gozaria mais rápido, liberando-a. Mas estranhamente, não teve vontade de que fosse tão rápida assim a “vez” dele.
Foi neste instante que ela notou que ele a olhou nos olhos, como se não notasse que seu corpo sofria solavancos desenfreados e mal ritmados de um homem. Ela a olhava realmente observando seus olhos. E sorriu, segurando-a pelo queixo, e dando-lhe um suave, porém rápido, beijo nos lábios.
“- Pablo...” - Sussurrou, sozinha, caminhando entre as árvores da redenção. Era tarde. O Mini-Zoo estava fechado. Só veria os macacos bem ao longe, e não teria graça nenhuma. Seguiu andando, talvez a estátua do Buda, no templo oriental, tivesse algo que lhe trouxesse controle. Em breve estaria em casa, e ainda não sabia como contornar seu marido Adriano para que não visse os vários hematomas que o maldito moleque deixou em seus seios e nos braços.
Seguiu caminhando, contornando o espelho d’água, encrespado das rajadas de vento. Ao longe, avistou o topo vermelho do pequeno templo de Buda, com uma enorme pichação em azul no topo. “Toniolo”, dizia nela. Ficou a pensar... “- Meu Deus, isso está em toda a parte! Não pode haver um único pichador chamado Toniolo. Mas com exatamente a mesma caligrafia... Lendas de Porto Alegre”.
Seu vestido branco largo, até o meio das canelas, esvoaçava com seus detalhes em bordado azul claro. O elástico largo da cintura ao peito dava-lhe um bonito contorno contra o vento, combinando com o aspecto frio de sua face tão branca, mas rosada pelo vento. Tecido todo frisado, destes que a gente tem vontade de apertar. Seguiu andando. E lembrou de Pablo. Por um momento não pode lembrar-se se realmente foi penetrada por ele, como uma lacuna na memória. Rebuscou, lembrou-se do ilustre Sr. Italiano que veio antes, com um membro descomunal, mas de enorme facilidade para ejacular. Aliás, dez minutos e Daiana pode recolher de volta sua roupa, pois a Lingerie nem ao menos tirou...
Lembrou-se então do negro jovem, bonito. Mas faltavam-lhe modos, e gemia demais. Um pouco abrutalhado, e fixado em sexo anal. Deu-lhe trabalho, não conseguiu engana-lo com o truque da mão com gel, pois não permitiu que apagasse a luz. Queria ver a pele branca de Daiana em contraste com a sua. Havia tempo que Daiana não fazia anal. Doeu bastante, e a falta de calma do rapaz não contribuiu para sua retomada de prática. Teria que enganar seus clientes por mais uma semana para voltar a sentir prazer por trás...
O outro, Soldado Conscrito do Exército, um moleque de 18 anos, freguês semanal da casa. Entrava quieto, saia mudo. Seu dinheiro dava para apenas quinze minutos. As meninas em geral gostavam dele, meninote, tímido, sem grades pretensões. Apenas fazia o que tinha que fazer e ia embora. Alves não gostava dele por que não bebia nada, coitado, Na certa contava os vinténs para poder pagar quinze minutos do amor de uma mulher. Com Daiana foi a primeira vez, ela o tratou com um homem de verdade!Teve vontade de vê-lo sentido-se bem, pois era tão miúdo e franzino, “alemãozinho”... Devia ser motivo de chacota entre colegas no quartel, já que fugia ao perfil.
Mas claro... Pablo. Masturbou-se nos seios de Daiana o tempo quase todo, acariciando seus cabelos, olhando-a nos olhos, enquanto de algum modo, o velho se divertia entre as pernas dela, ou então, por trás. Ela mal o notou. Respondia ao olhar de Pablo como a um chamado encantado. No último momento, ela o teve por sobre seu corpo, por minutos que não soube contar, mas poucos, frente aos que queria. Mais alguns solavancos, bem ritmados, ele era caprichoso, e ela o sentiu tremer. O impulso dela, desta vez, não foi o de rapidamente segurar a beira da camisinha, para evitar que escorregasse e escorresse sêmen. Foi apenas o de abraça-lo. Mas não conseguiu fazer nem uma coisa, nem outra. Austero, ele mesmo cuidou de retirar cuidadosamente o membro, segurando corretamente o preservativo. Não o viu mais sorrir. “-Por que o orgasmo acaba com o encanto de qualquer homem...?” - questionou-se, pela milésima vez.
- Moça... está bem? - Daiana assustou-se, estava totalmente distraída, de olhar atônito, voltada para a estátua gorda e orelhuda de Buda.