21 de julho de 2007

Milene: Amor e Traição

Eu me chamo Milene.
E naquele instante, quando abri meus olhos, ainda com a sensação de ressaca, dessa ressaca curta que a gente sente quando dorme fora de horário, as lembranças ainda flutuavam em minha mente como se fosse algo muito distante. Mas de um segundo para outro, a realidade invadiu-me como uma flecha incandescente... Um frio terrível subiu-me pela espinha, e a sensação daquele lençol áspero em minha pele, misto da capa plástica do colchão parcialmente descoberto tocando em minha perna, enquanto meu corpo confuso estava envolto naquele acolchoado escuro, tudo muito, muito confuso.

Uma dor de cabeça fraca, mas constante, e a sensação de orgasmo espalhada por meu corpo, por meu ventre. Foi quando então, na penumbra pouco reveladora, vi meu corpo refletido no espelho do teto, ao lado de um belo corpo masculino desfalecido, totalmente adormecido, virado para o outro lado.

O cheiro ácido espalhado pelo quarto me remetia às lembranças de poucas horas atrás, entre o champanhe, a cerveja e as gozadas, todos desenfreados. Um sorriso de canto de boca me escapuliu, e o ventre acalorou-me novamente, então virei-me para o lado dele, deixando meus seios desnudos tocarem suas costas quentes. Então, antes que eu tomasse sua temperatura em mim, senti a vibração do celular no vibracall... A realidade mais uma vez invadiu-me, numa sensação de desespero. Eu sabia quem era. Mas queria não saber. E queria não saber por que razão me ligava. Pelo espelho, ao contrário no relógio digital do rádio, não tive dificuldades de saber que eram 22:30 da noite. E eu estava nada menos do que quatro horas atrasada para chegar em casa. Não tinha uma única justificativa. Não tinha um motivo. Não tinha uma razão. Nem para meu marido, nem para minha filha, e pior... Nem para mim.

Cinco dias antes, eu era uma simples mulher, feliz com meus dois filhos, Andrey de 4 anos, Jéssica de 13, que já estava uma linda menina, minha melhor amiga e confidente, e apesar de tudo, dava-me bem com meu marido, Jonatas. Casamos jovens, ele com 24 anos, eu com 17, por estar grávida dele. Mas aos 28 anos, eu já me sentia uma mulher sem graça, sem atrativos. Tornei-me uma dona de casa sofisticada, meu marido, bem sucedido, nunca deixou faltar-nos nada. Mas nunca mais, desde que casamos, me deu motivos para sentir-me uma mulher desejada e atraente. Dois anos atrás, descobri seu caso com a secretária, que foi demitida na mesma semana, mas não curou a dor de minha alma. Não pela traição, os homens são assim... Mas por tudo o que sei que ele fazia com ela, e não mais comigo. Nunca exigi que fosse um homem maravilhoso no sexo. Mas quando descobri os e-mails dele para ela, e dela para ele, notei nele um homem muito arrojado na cama, como jamais foi comigo.

O perdoei pela traição. Mas não me perdoei por ter falhado como esposa. Emagreci pelo menos 8 quilos, passei a cuidar de minha beleza, tornei-me uma mulher atraente, sei que chamo atenção por meus cabelos louros, naturalmente assim, minha estatua média, corpo bem trabalhado por meses de esforço na academia. Resolvi me transformar, e consegui isso. Sou uma mulher de trinta anos. Uma linda mulher de trinta anos. E meu marido, um homem capaz de se excitar o suficiente comigo para querer ver-me de luz acesa todos os dias.

Habituei-me a isso, e já me considerava uma mulher redesenhada, reformulada em matéria de sexualidade. Por isso, saíamos freqüentemente para brindar, comemorar, jantar fora. Superamos nossa crise com uma variedade de formas de ser felizes. Mas foi num desses jantares que vi minha própria máscara cair, depois de treze anos casada.

Estávamos num Shopping Center bastante popular de nosso Bairro, em Porto Alegre, após termos passeado no Parque Marinha do Brasil, para deixar as crianças estrearem seus patins novos, resolvemos jantar num bom restaurante do Shopping. A pedido das crianças, resolvemos comer massas. E foi na mesa, entre a confusão que sempre é servir crianças num restaurante normalmente cheio, que reparei que um jovem homem, certamente com menos de 30 anos, em companhia de uma linda moça, provavelmente ainda mais jovem que ele, e me fitava insistentemente, mas de forma relativamente discreta. Parecia muito sutil, ninguém notaria, exceto eu.

Fiquei intrigada, cheguei a achar que era impressão minha. Mas as repetidas vezes em que furtivamente me espiava, lançando um discreto cumprimento de cabeça, me deixaram claro que era proposital. Reparei que a moça que o acompanhava era muito bonita, certamente muito mais que eu. Fiquei muito admirada por ele reparar numa mulher, mãe de família, tão “sem graça” como eu me imaginava.

Lá pelas tantas, Jonatas foi ao banheiro, e Jéssica foi buscar uma sobremesa. Vi-me na mesa em companhia somente de Andrey, meu bebezão de 4 anos. Mas percebi que na passada, o garçom, sem olhar-me no rosto, deixou um bilhete escrito num guardanapo sobre minha mesa e se retirou rapidamente. Fiquei intrigada, cheguei a imaginar que pudesse ser. Mas não fazia sentido, então acreditei de pronto:
“Adoraria saber seu nome. O meu é André. E meu telefone...”
Fiquei atônita. Olhei para ele mais uma vez e o maldito sorria, quase debochado. Parecia rir de minha total falta de reação.

Mas o celular continuava a tocar... Já era a sexta chamada dele, e eu sem coragem nenhuma de atender. Nem mesmo saberia o que dizer. Me sentia apavorada. Olhava para André ali, dormindo ao meu lado, como uma pedra. O vinho, a cerveja após o vinho acabar... Os vários orgasmos que tivemos. Ele tinha boas razões para não acordar. E eu, para não dormir.

Ao levantar-me da cama, senti minhas costas tocarem numa poça gelada de líquidos nossos. Havia várias espalhadas pela cama, não havia qualquer lógica nos lugares onde elas apareciam conforme eu olhava. No banheiro, liguei o chuveiro e enquanto aguardava a água esquentar, parei em frente ao espelho, e me encarei. Pelo meu corpo, marcas, rajadas de sêmen do André pelo meu peito, pelo pescoço, e pelas minhas coxas. Sem querer, fui remontando o momento em que entramos no motel, eu ainda tensa, tentando controlar meu coração disparado, receoso de ser visto por algum conhecido meu e de meu marido. Não acreditava ainda estar fazendo aquilo. Não sabia mesmo se queria, mas sabia que não conseguia evitar.

Na porta, eu cheguei a dar uma pequena travada, mas o corpo de André, forte, firme, decidido, não deixou-me retroceder um só passo, e abraçou-me fortemente por trás. Sempre forte, carinhoso, mas quase ameaçador de tão decidido. Eu realmente chegava a estar determinada a me levantar, livrar-me dos braços dele, chegava a relutar violentamente. Mas a forma como ele estava decidido parecia hipnotizar-me de maneira irresistível, eu fazia o contrário de tudo o que achava certo fazer.

Eram três horas da tarde, e depois de ter enrolado uma dúzia de pessoas para fazer parecer que estava no shopping, comprando com amigas, eu já me sentia moída de remorso, sabendo que seria questão de tempo para que todos soubessem onde eu não estava. “-Que merda...- pensei,- por que a gente não consegue pensar e sentir tesão ao mesmo tempo...?”

E quanto tesão. Meu corpo se aquecia ao simples toque dele. Quando me puxava e me empurrava, tirando peças da minha roupa sem ao menos dar-me tempo para me posicionar, não me permitia pensar. Apenas me comprimia, sempre contra algo, fosse a parede, fosse a cama... Ou até mesmo o carpete em alguns momentos. André era quase bruto, e sua forma envolvente de me comandar fazia-me odiá-lo profundamente por longos segundos, disparando meu coração de vontades, medos, dor, angústia. Muita angústia. Cheguei a imaginar o rosto de meu marido naquele instante, com o olhar profundamente triste ao me encarar após minha descoberta de seu caso outra mulher. Ele realmente parecia triste, e aquele olhar nunca me saiu da memória.

E foi praticamente vendo aquele olhar que, apoiada sobre a mesa gelada de mármore que ficava no hall do quarto barato de motel onde eu estava, que senti meu quadril estremecer convulsionado por um orgasmo, sentindo todo o peso de André sobre minhas costas, quase me sufocando, enquanto sua mão invasiva manipulava minha vulva como se eu permitisse isso. Tentava tirar sua mão dali, por ato reflexo de culpa, mas ele ignorava minha tentativa. Com a mão esquerda apoiada sobre minha cintura, me pressionava contra a mesa, deixando-a imóvel. Com a direita, invadia minha intimidade, dilacerando minha honra com os dedos encharcados no meu orgasmo de ódio, tesão e desejo. A sensação ficava entre a tristeza e a saciez... Eu me odiava. E isso reforçava a intensidade com que minhas coxas ficavam molhadas de meu orgasmo.

Neste momento, lembrei que as mentiras que contei, para ir ao encontro de André, não tinham qualquer chance de dar certo. Não durariam até o final da noite, pois não foram nem de longe planejadas. Aliás, ainda não acho resposta do porquê mesmo com a convicção de que aquele encontro duraria no máximo meia hora, tomei os cuidados de depilar-me perfeitamente, usar meu perfume mais sedutor e a lingerie mais sexy que eu possuía, e que nem meu marido conhecia. E sabia que não poderia fazer isso. Mas fiz.

Minha intenção ao encontrar aquele garoto, quando liguei para seu celular no dia seguinte ao episódio do restaurante, era a de saber se eu realmente era uma mulher interessante daquela forma. Queria ouvir da boca de um homem que sentia desejo por mim. E iludi-me ao acreditar que o controle de tudo estava na minha mão. Conversamos por vinte minutos na mesa de um bar na rua Lima e Silva. Foi o tempo que ele levou para levantar-se sem explicar o porque, vir até meu lado, agarrar-me pela gola da blusa e arrancar-me um beijo sem qualquer conexão com o que falávamos.

Em mais 15 minutos eu entrava em seu carro, rumo a um motel, totalmente perplexa. Meu ar de segura e determinada era uma fachada absolutamente mentirosa, e me neguei a buscar uma forma de parar aquilo tudo, ou de arranjar qualquer justificativa.
Não conseguia mais ver meu rosto no espelho embaçado. O banheiro era todo vapor. No Box, deixei a água desabar sobre minha pele, e quando escorreu por meus joelhos, pude sentir a ardência. Estavam ralados do lençol durante os fortes e intermináveis solavancos dos quadris de André contra mim, por trás, de quatro. Não senti absolutamente nada na hora, além da verga quente e dura daquele garoto acertando-me o fundo do ventre por muitas estocadas.

Doía às vezes, e eu tentava conter seu corpo erguendo a mão e segurando seu quadril. De forma grosseira e sensual, apesar disso, ele expulsava minhas mãos de seu corpo, invadindo-me ainda mais fundo com seu pênis terrivelmente rígido. Ele olhava-me como quem tem fome. Reduzia o ritmo, às vezes parava completamente de se movimentar, puxando-me pelos cabelos até erguer-me da cama, deixando-me de joelhos, mas encaixada em seu membro enterrado na minha vagina. Com a mão direita, manipulava meu clitóris, que já estava ferido da brutalidade de seus dedos, a mão esquerda apertava meus seios com vigor, e ignorava minha tentativa de reduzir seu furor por me apertar e tocar.

A água do chuveiro começou a escorrer entre minhas pernas, e senti ardência nos pequenos lábios. Senti vergonha de me tocar, e muita vontade de chorar. Ao me tocar, encontrei minha vulva totalmente inchada, como jamais havia sentido. Os ossos logo atrás da virilha doíam muito, como só uma vez senti, depois de ter andado por uma tarde inteira de bicicleta, ficando sem conseguir sentar-me direito por dias. E vi que levaria isso comigo para casa. Como seria olhar meu marido e meus filhos sentindo as marcas de algo assim? As lágrimas quiseram brotar. Mas o susto da porta se abrindo me interrompeu.

Com meu celular na mão, André olhava-me debochado:
- Teu telefone não para de tocar, olha aqui?
- Deixe-o lá. E me deixa sozinha, não gosto de tomar banho com ninguém olhando.
- Não te preocupa. Não vou te olhar.
Ele foi se aproximando com o mesmo olhar ameaçador que me mostrou várias vezes durante aquela tarde/noite. Invadiu o Box, e seu corpo nu, muito bonito, apesar de um pouco mais magro do que parecia vestido, tomou meu lugar debaixo do chuveiro, deixando-me quase encostada à parede.

Agarrou-me pela cintura, e juntou seu corpo ao meu. A sensação da água escorrendo entre nós dois era muito agradável. E atirei-me em seus braços, beijando-o ardentemente. Foi assim por todo o tempo. A culpa parecia apenas acender meu desejo se pertencer àquele homem por alguns momentos. Eu não resistia à vontade. Em diversos momentos, senti prazer em sentir-me “suja”. Descobri que meu corpo existia por si só, e que desejava coisas. Que pedia coisas que meu moralismo jamais me permitiria.

Quando me vi de joelhos novamente, como passei boa parte das ultimas horas, deixei a água que respingava-me o rosto, escorrendo do peito e do abdômen levemente peludo de André, escoar por entre meus lábios, que neste momento estavam envolvendo a glande agridoce daquele macho insaciável, que ensaiava um vai-e-vem suave e constante na minha boca. Era difícil respirar com a água escorrendo em meu rosto, vez ou outra me engasgava, bebendo muita água. Senti que ele estava ascendendo novamente de tesão, e tive medo. Estávamos muito longe do quarto, e das camisinhas. Da forma como ele era autoritário, se seu desejo o dominasse, me comeria sem culpas e sem camisinha ali mesmo. Minha responsabilidade seria suprimida por minhas fraquezas diante dele. Mas não minha inteligência. Comecei a chupar seu membro com o vigor de quem está decidida a vê-lo gozar.

Enquanto o masturbava com uma das mãos, acariciava com a outra o interior de suas coxas, seus testículos, sua bunda tão firma e musculosa. Um gemido satisfeito dele denunciou que finalmente eu estava correspondendo suas expectativas, e ele relaxou. Também me senti aliviada, pois pela primeira vez, tinha o controle. Masturbei seu pênis com muita vontade, e muito carinho. Chupava cada gota de água e dos líquidos que escorriam daquele membro como se fosse um sonho realizado.
Os músculos de suas coxas começaram contrações intermitentes, seu vai-e-vem ficando mais desritmado, molezas em seus joelhos, eram um anúncio. André recostou-se na parede, e suas mãos pousaram em meus ombros, acolhi profundamente seu membro, mergulhado em minha boca.

O calor invadiu a boca. Gostos estranhos se misturavam na minha língua, e escorriam pela minha garganta. Um urro contido, abafado, escapou da boca de André, que lentamente deixou o corpo ir desfalecendo e escorregando pela parede. Sentado no chão, acolheu-me no colo.

Já devia passar das 23hs... Era hora de enfrentar a realidade.
Já parcialmente vestidos, chamei um táxi para mim, queria sair dali separada de André, que emudeceu quase completamente depois de sair do chuveiro. Apenas um sorriso debochado ficava impresso em seu rosto o tempo todo.
Encarei o telefone celular, trancada no banheiro, sozinha.

- Jonatas... Sou eu.
- Milene, pelo amor de Deus, já liguei até para hospitais...! O que aconteceu, tu estás bem?
- Não. Não estou. Vou precisar muito do teu apoio quando chegar em casa. E vou precisar muito que retribuas a compreensão que tive contigo. Quero apenas que me ajudes com as crianças. O resto... Deixarei nas tuas mãos.
- Milene... Esquece isso. Vem pra casa. Jéssica está apavorada com minha preocupação. O que nos pertence deve ficar somente entre nós. Não quero saber de mais nada agora, só quero te abraçar e te ver bem.
- Jonatas... Estou com um homem... Num quarto de motel. Não sei direito como aconteceu. Estou confusa.
- Vem pra casa, Milene. Esquece o resto. Te espero com um café, conversamos aqui. Só quero que estejas bem. Deixa isso passar.

Chorei por uns 10 minutos sentada na tampa do vaso, com André atônito, me esperando na porta, meio assustado. Minha dignidade parecia ter escorrido pelo ralo daquele Box, misturada com minha saliva e sêmen. Mas da mesma forma que escorreu pela minha garganta, para dentro de mim, seria algo que eu teria que encarar. Senti prazer naquilo tudo. E talvez fizesse tudo de novo da mesma forma. Algo nascia em mim. E meu amor por Jonatas pareceu elevar-se exponencialmente com a sua atitude fabulosa.Aprendi muito com ele naquele dia.

Quando decidi descer para o táxi que já esperava havia algum tempo, André apenas beijou-me a mão, sentado à beira da cama, perguntando se me sentia bem, se não queria mesmo que me levasse até algum lugar em seu carro. Antes que terminasse de perguntar, agarrei-o pela nuca, e beijei sua boca violentamente. O desejo ficava quase incandescente novamente... E o empurrei violentamente para trás, jogando-o deitado sobre a cama.

- Puto, cretino...!
Com um sorriso sarcástico e sem olhar para trás, saí dali. Ouvi ainda sua risada, atirado sobre a cama. Não me despedi, e fui pra casa.
Quando nossos olhares se tocaram na minha chegada, as crianças já dormiam, tranqüilizadas por Jonatas. Não trocamos uma única palavra até então, ele foi comigo até a cozinha, onde sentamos com nossos cafés, cada um de um lado da pequena mesa. Dali, sem nada dizer, fomos para nossa cama.

Deitei minha cabeça no seu peito, e chorei, muito. Tanto, que nem mesmo reparei que ele também chorava. Ambos sentíamos muita dor. Nosso amor um pelo outro parecia doer terrivelmente, como se fosse uma bola de espinhos no peito. Eu ainda não sabia se tinha ferido mortalmente nossa harmonia, pois sabia que minha atitude era muito menos justificável que a dele...

Estava quase adormecendo, mesmo soluçando de choro em seu peito. Vi que ele adormeceu, com uma expressão ainda entristecida, e senti ressentimento por mim mesma. Sentia o sono me vencendo, meu corpo estava cansado demais. Com a mão, toquei o interior de minhas coxas, e senti o quanto meu corpo estava dolorido. Muito machucada... E estranhamente, muito satisfeita.

As luzes da manhã anunciavam a chegada do sábado, mas dormiríamos no mínimo até umas nove horas da manhã, inclusive as crianças, já que dormiram tarde. Foi quando percebi algo... A mão de Jonatas estava enfiada dentro de minha calcinha, com os dedos repousados dentre meus grandes lábios, que ardiam muito ainda, muito inchados. Completamente adormecido, seu pijama estava completamente encharcado, como sempre ficava quando assistíamos filmes pornôs. Respirei fundo, e me permiti adormecer novamente. Teríamos um longo sábado com nossas crianças no parque.

6 de julho de 2007

Os Motivos de Daiana - Parte 3 - "Fim da Firma"

Antes de dar seqüência na leitura deste conto, saiba o leitor que se faz importante a prévia leitura dos demais contos da série “Motivos de Daiana”, para que se possa apreciar e compreender por completo o que se passa na história.
O demais contos anteriores da série podem ser encontrados nos links a seguir:

Os Motivos de Daiana I

Os Motivos de Daiana - Parte II


Lentamente ela ia afastando-se do edifício, e uma rajada de vento jogou contra sua perna uma folha perdida de jornal, provavelmente saída de uma das bancas de frutas que cercavam o prédio onde ela havia passado mais de 5 horas a fio, servindo aos caprichos de pelo menos meia dúzia de homens naquela tarde. O corpo estava ainda dolorido do jovem afoito que dera início a sua jornada de trabalho. Ele caprichosamente cuidou de feri-la o máximo que pode, para provar para si mesmo que não se importava com ela. Para provar para si mesmo que não precisava de uma puta. Mordeu seus mamilos quase ao ponto de corta-los, e fingiu não importar-se com o discreto pedido de Daiana para que parasse. Ao contrário, foi como um estímulo, mais força ele empregou para morder a delicada pele de Daiana.
Mas Daiana conhece isso muito bem. Preferiu não pedir uma segunda vez, apenas sorriu. Acariciou seu cabelo, e sussurrou baixinho: “- Tu és o terceiro hoje, querido. Mas não conseguiria nunca ser o último a não ser que me matasses”...
O jornal que prendeu-se em sua perna, pelo forte vento que congelava a capital nesta tarde, parecia não querer desprender-se de forma alguma. Soltava-se de uma, prendia-se de outra, irritantemente. Daiana respirou fundo, arrumou o cabelo negro e embaraçado pelo vento em um coque. E seguiu a caminhar, ignorando o jornal. Atravessou a Av. Borges de Mendeiros, em direção ao viaduto, determinada a caminhar até o Parque Farroupilha. Queria ver os macacos da redenção antes do fim da tarde, pegar um pouco de ar. Precisava muito ver algo não humano, algo menos vil e sujo.
Seu celular tocou antes que chegasse à altura da pequena Praça Argentina, onde mendigos procuravam abrigo do frio que o fim da tarde começava a trazer. Uma breve espiada no celular, e pode ver que Alves ainda tinha algo a dizer. “- Maldito cafetão. Não basta o que já ouvi...”
- O que queres, Alves?
- Alô, Jaque? Volta pra cá, mulher, na terminamos de conversar!
- Já falei, não me chamo mais Jaque. Aliás, nunca deveria ter me chamado jaque. E não tenho mais nada ra dizer. Nem pra ouvir.
- Jaque... Ta, Daiane...
- Daiana.
- Isso, ta bom... Vem cá, volta pra cá, o guri já foi embora, agora podemos conversar direito. Sabes que o que te falei não foi por mal, mas eu precisava concordar, tu sabes como as coisas são...
- Não me interessa, Alves. Ele me feriu, me machucou. Um pivete, playboy metido a dono de boca.
- Jaque, ele é filho do “homem”, que que tu quer que eu faça? Tu sabe que o Coronel não é mole, se eu contrariar o bicho pega.
- Já pegou, Alves. Não volto mais.
- Jaque...
- Não me chama de Jaque.
- Ta, guria. Volta aqui, vamo tomar um conhaque e acertar as coisas. Tenho uma grana pra te dar de hoje. Trabalhou bem, merece o teu.
- Fica com o meu, Alves. Compra um algodão doce. Ou um amendoim, acho que te fará melhor.
Foi sem sorriso algum no rosto alvo, rubro pelo vento frio, que Daiana desligou o telefone. Uma lágrima incontinente escapou-lhe, mas foi rapidamente colhida. Não somente pelos tapas que levou no rosto logo após a réplica dada às mordidas vorazes do moleque. Nem pelos empurrões para fora do quarto que ele lhe deu, antes de ordenar a Alves que mandasse embora aquela “puta imunda e fedorenta”, nas palavras do ilustre menino de 19 anos, filho do dono da firma.
Ele quase nunca aparecia, normalmente escolhia as meninas mais novas, mais submissas e vindas do interior. Delas fazia o que bem entendia, e jamais reclamavam. Normalmente pediam folga logo depois de com ele estar, e não costumavam contar umas às outras o que se passava com ele dentro do quarto. Diziam as lendas que o rapaz tinha um dote nada privilegiado, e que gostava de introduzir objetos impróprios nas meninas, qualquer coisa que achasse por perto, desde aparelhos de telefone, até pedaços de tecido. Ameaçava-lhes de manda-las não somente embora, mas de evitar que fossem aceitas em qualquer outro lugar se reclamassem muito, ou se contassem a alguém.
Daiana nunca era a escolhida, tinha um ar por demais maduro e sério. Nada tímida, as vezes impetuosa. Mas aquele dia, justamente, depois de umas garrafa inteira da vinho na frente dos amigos, moleques quase todos de 16, 17 anos, ele apontou o dedo pra ela, como num maldita roleta russa.
Depois de expulsa-la do quarto, dizendo barbaridades, que Daiana julgou que seriam o limite da baixeza que viria, desapareceu para dentro de um dos quartos vagos, bêbado de cair, e por lá dormiu. Alves não hesitou em amparara-la paternalmente, orientado-a a seguir a rotina de “trabalho”. Machucada, e magoada, ela atendeu ainda mais cinco clientes. Dois deles simultaneamente, sendo que foram os últimos.
Um deles era até um belo rapaz, de não mais que trinta anos, bem apessoado, provavelmente conduzido pelo outro, mais velho e mais atrevido. Provavelmente colegas de trabalho, o mais velho, cujo nome Daiana ignorava, apresentava a casa ao outro. Por mais que tentasse, Daiana não foi capaz de lembrar se já o tinha atendido. Afinal, era tão medíocre. Tão comum e trivial, em nada se destacava dos outros tantos homens que possuíam seu corpo nas tardes vazias de sua vida. Mas estranhamente, sem saber em que momento escutou pela primeira vez, foi incapaz de esquecer o nome do mais jovem. Pablo. Tão... Educado... Foi cortês o tempo todo, tratou-a como a uma Lady. Sempre de olhar baixo, parecia um pouco envergonhado e tímido, mas conformado com a situação de ter de demonstrar que tudo estava sob controle. Foi dele a única boca que Daiana não recusou aquela tarde, durante o breve momento de desconcentração que sofreu em quanto o mais velho a penetrava por trás, na beirada da cama, aos solavancos. Neste momento, habitualmente, ela deveria chupar o rapaz da frente, para sensibiliza-lo ao máximo, então gozaria mais rápido, liberando-a. Mas estranhamente, não teve vontade de que fosse tão rápida assim a “vez” dele.
Foi neste instante que ela notou que ele a olhou nos olhos, como se não notasse que seu corpo sofria solavancos desenfreados e mal ritmados de um homem. Ela a olhava realmente observando seus olhos. E sorriu, segurando-a pelo queixo, e dando-lhe um suave, porém rápido, beijo nos lábios.
“- Pablo...” - Sussurrou, sozinha, caminhando entre as árvores da redenção. Era tarde. O Mini-Zoo estava fechado. Só veria os macacos bem ao longe, e não teria graça nenhuma. Seguiu andando, talvez a estátua do Buda, no templo oriental, tivesse algo que lhe trouxesse controle. Em breve estaria em casa, e ainda não sabia como contornar seu marido Adriano para que não visse os vários hematomas que o maldito moleque deixou em seus seios e nos braços.
Seguiu caminhando, contornando o espelho d’água, encrespado das rajadas de vento. Ao longe, avistou o topo vermelho do pequeno templo de Buda, com uma enorme pichação em azul no topo. “Toniolo”, dizia nela. Ficou a pensar... “- Meu Deus, isso está em toda a parte! Não pode haver um único pichador chamado Toniolo. Mas com exatamente a mesma caligrafia... Lendas de Porto Alegre”.
Seu vestido branco largo, até o meio das canelas, esvoaçava com seus detalhes em bordado azul claro. O elástico largo da cintura ao peito dava-lhe um bonito contorno contra o vento, combinando com o aspecto frio de sua face tão branca, mas rosada pelo vento. Tecido todo frisado, destes que a gente tem vontade de apertar. Seguiu andando. E lembrou de Pablo. Por um momento não pode lembrar-se se realmente foi penetrada por ele, como uma lacuna na memória. Rebuscou, lembrou-se do ilustre Sr. Italiano que veio antes, com um membro descomunal, mas de enorme facilidade para ejacular. Aliás, dez minutos e Daiana pode recolher de volta sua roupa, pois a Lingerie nem ao menos tirou...
Lembrou-se então do negro jovem, bonito. Mas faltavam-lhe modos, e gemia demais. Um pouco abrutalhado, e fixado em sexo anal. Deu-lhe trabalho, não conseguiu engana-lo com o truque da mão com gel, pois não permitiu que apagasse a luz. Queria ver a pele branca de Daiana em contraste com a sua. Havia tempo que Daiana não fazia anal. Doeu bastante, e a falta de calma do rapaz não contribuiu para sua retomada de prática. Teria que enganar seus clientes por mais uma semana para voltar a sentir prazer por trás...
O outro, Soldado Conscrito do Exército, um moleque de 18 anos, freguês semanal da casa. Entrava quieto, saia mudo. Seu dinheiro dava para apenas quinze minutos. As meninas em geral gostavam dele, meninote, tímido, sem grades pretensões. Apenas fazia o que tinha que fazer e ia embora. Alves não gostava dele por que não bebia nada, coitado, Na certa contava os vinténs para poder pagar quinze minutos do amor de uma mulher. Com Daiana foi a primeira vez, ela o tratou com um homem de verdade!Teve vontade de vê-lo sentido-se bem, pois era tão miúdo e franzino, “alemãozinho”... Devia ser motivo de chacota entre colegas no quartel, já que fugia ao perfil.
Mas claro... Pablo. Masturbou-se nos seios de Daiana o tempo quase todo, acariciando seus cabelos, olhando-a nos olhos, enquanto de algum modo, o velho se divertia entre as pernas dela, ou então, por trás. Ela mal o notou. Respondia ao olhar de Pablo como a um chamado encantado. No último momento, ela o teve por sobre seu corpo, por minutos que não soube contar, mas poucos, frente aos que queria. Mais alguns solavancos, bem ritmados, ele era caprichoso, e ela o sentiu tremer. O impulso dela, desta vez, não foi o de rapidamente segurar a beira da camisinha, para evitar que escorregasse e escorresse sêmen. Foi apenas o de abraça-lo. Mas não conseguiu fazer nem uma coisa, nem outra. Austero, ele mesmo cuidou de retirar cuidadosamente o membro, segurando corretamente o preservativo. Não o viu mais sorrir. “-Por que o orgasmo acaba com o encanto de qualquer homem...?” - questionou-se, pela milésima vez.
- Moça... está bem? - Daiana assustou-se, estava totalmente distraída, de olhar atônito, voltada para a estátua gorda e orelhuda de Buda.